Formação de professores de Matemática e educação básica: justiça social e equidade no processo de reconstrução da democracia brasileira

Autores

Palavras-chave:

Formação de professores, Licenciatura em Matemática, BNCC e BNCC-formação, CNE, Práticas de formação insurgentes

Resumo

O lugar e a formação de professores que ensinam Matemática são tomados, neste texto, como questão de sociedade e são discutidos em três âmbitos: - dos contextos práticos onde ocorrem; - dos processos de institucionalização; - dos sinalizadores de pesquisas produzidas em Educação Matemática. Identificam-se atravessamentos, interdições e apagamentos que decorrem do contexto sociopolítico brasileiro marcado por profundas desigualdades e injustiça sociais e por fortes disputas de interesses, projetos e governança na educação. Ainda como elementos que ajudaram na produção deste texto considera-se o professor e seus formadores sujeitos dotados de capacidade crítica e reflexividade que dignificam o profissional e a profissão, permitindo-lhes exercer sua autonomia, escapar da tutela e controle de terceiros. A produção deste trabalho se baseou no exame analítico de oito textos de pesquisadores brasileiros incidindo a atenção mais nos focos e menos nos enfoques teóricos/metodológicos dessa pequena seleção de textos. Tal escolha levou em conta a bem-sucedida prática de cartografar saberes docentes e fundamentos da pesquisa em Educação Matemática em fóruns da área, e em reuniões anteriores da ANPED. Ao focalizar questões e objetivos dos textos vislumbrou-se convergências entre estudos como a emergência de práticas de formação insurgentes forjadas a contrapelo de injunções provocadas por políticas educacionais em curso.

Biografia do Autor

Vinicio de Macedo Santos, Universidade Federal de Juiz de Fora

Licenciado em Matemática pelo Instituto de Matemática e Estatística da USP (1977), mestre em Educação: História, Política, Sociedade pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1989), doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (1995), Livre docente pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo desde 2008, na área de Metodologia do Ensino de Matemática e atualmente é professor Titular da FEUSP pelo Departamento de Metodologia de Ensino e Educação Comparada. Realizou Pós-Doutorado no Departamento de Didáctica de las Matemáticas da Universidade de Sevilha (2000/2001) e na École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris (2009), junto ao Groupe de Sociologie Reflexive e Pragmatique (GSPR) e foi professor visitante da Université Paris Ouest Nanterre (Paris X) em 2012. Coordena o Grupo de Pesquisas em Educação Matemática e Educação (GEPEME), desde 2004 e o Grupo Prospéro lusófona a partir de 2015.Foi membro titular e presidente da Comissão de Pesquisa da FE-USP. Foi diretor da Sociedade Brasileira de Educação Matemática - São Paulo (2003-2005). Foi membro do Comitê Científico e Coordenador do GT de Educação Matemática da Anped (2005-2007). Coordenou a área de Ensino de Ciências e Matemática do Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da USP. Desenvolveu e desenvolve projetos de pesquisa financiados pela FAPESP, CAPES e CNPq, com foco em dimensões da educação escolar, como o currículo de matemática, a relação e as dificuldades de alunos com a matemática, a formação do professor e do pesquisador em Educação Matemática.Tem publicado vários artigos e livros sobre essa temática e participado com trabalhos em eventos nacionais e internacionais da área. É membro da Sociedade Brasileira de Educação Matemática na qual integra atualmente o seu Conselho Editorial. É membro do Comitê Editorial de vários periódicos da área de Educação Matemática e Educação. Tem colaborado como assessor da FAPESP, CNPq,CAPES, FAPEMIG e da SCIELO.Tem experiência na área de Educação e Educação Matemática com ênfase na formação de professores para o ensino de Matemática, currículos de matemática para a educação básica, dificuldades no ensino e aprendizagem da Matemática e fundamentos sociológicos da pesquisa em Educação Matemática

Referências

ARCHER, Margaret Scotford. The reflexive imperative in late modernity. New York: Cambridge University Press, 2012.

ARCHER, M. S. Conversations about reflexivity. Abingdon (UK); New York (NY): Routledge, 2010.

AZCÁRATE, P. El conocimiento profesional: Naturaleza, fuentes, organización y desarrollo. Quadrante – Revista Teórica e de Investigação, 8(1-2), p. 11-138, 1999. https://doi.org/10.48489/quadrante.22716

BALL, S. J. Diretrizes políticas globais e relações políticas locais em educação. Currículo Sem Fronteiras, v. 1, n. 2, p. 99-116, dez. 2001. Disponível em:https://gestaoeducacaoespecial.ufes.br/sites/gestaoeducacaoespecial.ufes.br/files/field/anexo/ball.pdf

BALL, S. J. Sociologia das políticas educacionais e pesquisa crítico-social: uma revisão pessoal das políticas educacionais e da pesquisa em política educacional. Currículo Sem Fronteiras, v. 6, n. 2, p. 10-32, jul./dez. 2006. https://biblat.unam.mx/hevila/CurriculosemFronteiras/2006/vol6/no2/2.pdf

BERNSTEIN, B. A estruturação do discurso pedagógico: classe, códigos e controle. Petrópolis: Vozes, 1996.

BERNSTEIN, B. A pedagogização do conhecimento: estudos sobre recontextualização. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n.120, p.75-110, nov. 2003. https://doi.org/10.1590/S0100-15742003000300005

BOLTANSKI, L. Sociologie critique et sociologie de la critique. Politix, v. 3, n. 10-11, p. 124- 134, 1990. https://doi.org/10.3406/polix.1990.2129

BOLTANSKI, L. On critique - A sociologie of emancipation. Polity Press. Tradução e revisão: Alessandro Teruzzi e Rafael Nobre (p. 43-49), 2011.

BOLTANSKI, Luc; THÉVENOT, Laurent. De la justification: les économies de la grandeur. Paris: Gallimard, 1991.

BOLTANSKI, Luc; THEVENOT, Laurent. The sociology of critical capacity. European Journal of Social Theory, v.2, n.3, p. 359-377, 1999. https://doi.org/10.1177/136843199002003010

BOLTANSKI, Luc; THÉVENOT, Laurent. A justificação: sobre as economias da grandeza. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2020.

BROMME, R. Conocimientos profesionales de los profesores. Enseñanza de las Ciencias, 6(1), 19-29, 1998. Disponível em:

https://raco.cat/index.php/Ensenanza/article/view/51031

CAMPOS, L. A. Qual capacidade crítica? Relendo Boltanski à luz de Margaret Archer. Sociedade e Estado, vol. 31 n.3, Brasília set/dec. 2016. Disponível em: https://www.scielo.br/j/se/a/NJC5vTPwGMVSJqnXwxdmZyQ/?format=pdf&lang=pt

DEWEY, Jonh. Democracia e educação. Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1979.

FERRARI, Sônia Campaner Miguel. A tese da igualdade da inteligência e a hipótese comunista. Polietica, São Paulo, v. 2, n. 1, pp 49-69, 2014. https://doi.org/10.23925/poliética.v2i1.20658

MARCEL, Jules e CRUZ, Giseli B. Ethos Docente de Professores Referenciais. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 43, n. 1, p. 363-380, jan./mar. 2018. https://doi.org/10.1590/2175-623668903

NÓVOA, A. Conhecimento profissional docente e formação de professores. Rev. Bras. Educ. 27, 2022. https://doi.org/10.1590/S1413-24782022270129

PEREIRA, Irène. Lexique sociologie pragmatique et philosophie pragmatiste. Disponível em: https:iresmo.jimdo.com/2011/05/12/lexique-sociologie-pragmatique-et-philosophie-pragmatiste/ (acesso em 10/10/2023).

PINTO, Jorge Escrichi V. Saber histórico e desenvolvimento das competências de leitura e escrita no currículo oficial do estado de São Paulo. História: Questões & Debates, Curitiba, v. 68, n.1, p. 298-336, jan/jun. 2020. https://doi.org/10.5380/his.v68i1.61315

SAURA, Geo. Neoliberalización filantrópica y nuevas formas de privatización educativa: la red global Teach for All en España. Revista de la Associación de Sociologia de la Educación, València, v.9, n.2, p.248-264, 2016. Disponível em: https://ojs.uv.es/index.php/RASE/article/view/8418/8011

SANTOS, V. de M. A Matemática escolar, o aluno e o professor: paradoxos aparentes e polarizações em discussão. Cadernos Cedes, v. 28, p. 25-38, 2008. https://doi.org/10.1590/S0101-32622008000100003

SANTOS, V. de M. PNE e condição docente: para uma ontologia do trabalho docente. Zetetiké, Campinas, SP, v.24, n.1 pp. 173 – 188, 2016. https://doi.org/10.20396/zet.v24i45.8646536

SANTOS, V. de M. Apresentação: Sociologia Pragmática e matematização na escola. In SANTOS, V. de M. e OLIVEIRA, Z. V. (Org.). Estudos em Educação Matemática: abordagens didáticas e sociológicas. São Paulo: Editora Livraria da Física, 2019.

SANTOS, V. de M. Educação pública brasileira: lengua de madera e políticas de apagamento. In: BOTO, C. ; SANTOS, V. de M.; SILVA, V. B. da ; OLIVEIRA, Z. V. (Org.). A escola pública em crise: inflexões, apagamentos e desafios. 1a ed. São Paulo: Livraria da Física, v. 1, p. 289-308. 2020.

SBEM. Sociedade Brasileira de Educação Matemática. Subsídios para o debate sobre a formação inicial de professores que ensinam matemática. Documento elaborado no VII Fórum Nacional de Formação Inicial de professores que ensinam matemática (VII FPMat), nov. 2021. Disponível em: https://docs.google.com/document/d/1kDSVtLgkB0CFFr0Zq0CIpTXTB8177lOJLUAWS4nmTD4/edit?pli=1 (acesso em 05/10/2023)

SCHÖN, Donald. Educando o profissional reflexivo: um novo design para o ensino e a aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2000.

VERGER, Antoni; BONAI, Xavier. La estratégia educativa 2020 o las limitaciones del Banco Mundial para promover el “aprendizage para todos”. Educação e Sociedade. Campinas, v. 32, no.117, p. 911-932, 2011.

https://doi.org/10.1590/S0101-73302011000400002

VISEU, Sofia e CARVALHO, Luis M. Thinks tanks, policy networks and education governance: the emergence of new intra-national spaces of policy in Portugal. Education Policy Analysis Archives. v. 26, p. 1-26, 2018. https://doi.org/10.14507/epaa.26.3664

Downloads

Publicado

01-07-2024

Como Citar

SANTOS, V. de M. Formação de professores de Matemática e educação básica: justiça social e equidade no processo de reconstrução da democracia brasileira. Boletim GEPEM, [S. l.], v. 1, n. 84, p. 6–28, 2024. Disponível em: https://periodicos.ufrrj.br/index.php/gepem/article/view/995. Acesso em: 7 jul. 2024.

Edição

Seção

Artigos