“A Matemática não é neutra, é masculina”: percepções de licenciandas em Matemática sobre gênero

Autores

DOI:

https://doi.org/10.4322/gepem.2023.015

Palavras-chave:

Matemática, Gênero, Análise de Discurso, Educação Matemática, Mito da Neutralidade

Resumo

Nos últimos anos, discussões envolvendo gênero e a matemática escolar vêm ganhando espaço, ainda que lentamente, na Educação Matemática. Com o desejo de contribuir para o fortalecimento dessas discussões, o presente artigo tem por objetivo analisar como um grupo de discentes de Matemática compreende a experiência de ser mulher neste curso. Para a constituição do corpus de análise foi realizado um grupo focal com quatro mulheres discentes de Matemática de uma Instituição de Ensino Superior Pública (IESP) da região Sul do Brasil. A partir das informações produzidas no grupo focal, a Análise de Discurso com base em Eni P. Orlandi foi acionada, utilizando-se de deslizamentos e não-ditos para explorar os sentidos que as discentes atribuem às suas experiências. Como resultado, obtivemos os sentidos de vínculo entre opressão de gênero e graduação em Matemática; de ocultamento da opressão para sobrevivência; e de neutralidade Matemática associada ao homem. A partir de tais sentidos, foi construído o enunciado: a Matemática é uma área socialmente construída como neutra, exata, rígida e masculina.

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Publicado

30-12-2023

Como Citar

CARTAXO LIMA, Y.; BAPTISTA FRAGOZO, M.; VIEIRA GODOY, E. “A Matemática não é neutra, é masculina”: percepções de licenciandas em Matemática sobre gênero. Boletim GEPEM, [S. l.], n. 83, p. 138–154, 2023. DOI: 10.4322/gepem.2023.015. Disponível em: https://periodicos.ufrrj.br/index.php/gepem/article/view/834. Acesso em: 22 dez. 2024.

Edição

Seção

Gênero e Educação Matemática